ORIGEM
O Narguilé tem origem no Oriente. Uma das versões é a de que o narguilé teria sido inventado na Índia do século XVII, pelo médico Hakim Abul Fath, como um método para retirar as impurezas da fumaça. Quando chegou à China, passou a ser utilizado para fumar o ópio, e assim permaneceu até a revolução comunista, no fim da década de 1940. Na mão dos árabes, o cachimbo de água foi rapidamente incorporado para ser apreciado em grupo, acompanhado de café e prosa. Existem evidências históricas de narguilés na Pérsia e na Mesopotâmia. As peças mais primitivas eram feitas com madeira e um coco que fazia o lugar do corpo (o nome origina-se do persa nārgila, que significa "coco").
As cruzadas também auxiliaram a espalhar o narguilé pelo mundo, quando os guerreiros sobreviventes traziam-no para seus países. No Brasil, o narguilé foi trazido por alguns imigrantes europeus, e divulgado pelas colônias turca, libanesa e judaica.
FUNCIONAMENTO
Quando se aspira o ar pela mangueira, reduz-se a pressão no interior da base; isso faz com que ar aquecido pelo carvão passe pelo tabaco, produzindo a fumaça. Ela desce pelo corpo até a base, passa pela água, onde é resfriada e filtrada, que retém partículas sólidas. A fumaça segue pela mangueira até ser aspirada pelo usuário e expirada logo em seguida.
FUMO
Há um tabaco especial para narguilés, conhecidos popularmente como essência, usualmente feito com tabaco, melaço (um subproduto do açúcar) e frutas ou aromatizantes. Os aromas são bastante variados; encontra-se de frutas (como pêssego, maçã-verde, coco), flores, mel, e até mesmo Coca-Cola, Vinho e Red-Bull. Também é possível encontrar essências não-aromatizadas, estas progressivamente perderam espaço para as aromatizadas, que hoje são muito mais populares.
ESTRUTURA
MAL A SAÚDE
Participar de uma sessão de fumo de narguilé por uma hora equivale a consumir cerca de cem cigarros, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). A informação faz parte de uma série de dados divulgados pelo instituto sobre o produto nesta quarta-feira (29), Dia Nacional de Combate ao Fumo.
Além de incluir 4,7 mil substâncias tóxicas presentes no cigarro comum, o fumo do narguilé, um tipo de cachimbo oriental, possui concentrações superiores de nicotina, monóxido de carbono, metais pesados e substâncias cancerígenas, de acordo com o instituto.
Quase 300 mil pessoas em todo o país consomem o narguilé, segundo a Pesquisa Especial sobre o Tabagismo (PETab), realizada pelo Inca junto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número, contabilizado em 2008, equivale a uma cidade do tamanho do Guarujá, no litoral de São Paulo, também segundo dados do IBGE.
O pneumologista Ricardo Meirelles, da divisão de controle do tabagismo do Inca, ressalta que o uso de água no recipiente do narguilé proporciona uma sensação agradável aos usuáros, mas que mascara a quantidade de toxinas inaladas.
A presença da água "faz com que se aspire ainda mais a fumaça, dando a impressão que o organismo fica mais tolerante, o que é errado", pondera Meirelles em nota enviada pelo Inca.
Em uma hora, uma pessoa chega a dar mil tragadas em um narguilé. O processo gera uma fumaça inalada igual a uma centena de cigarros comuns ou mais, segundo o pneumologista.
Estudantes
Entre os estudantes de cursos de saúde, uma pesquisa aponta que mais de 55% dos que declararam ser fumantes de produtos de tabaco além do cigarro comum admitiram usar o narguilé. O número sobe para 80% se for considerada só a cidade de São Paulo, segundo o estudo.
Realizado em três capitais (São Paulo, Brasília e Florianópolis), o levantamento mostra que a situação do fumo entre universitários na área de saúde é preocupante, segundo o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini.
Algo mais
O bar medieval Mitellalter, localizado na 203 Norte, oferece várias opções de narguilês no cardápio. Seu proprietário, Caio Rébula, garante que a informação da OMS não é aceitável. "A fumaça é fria, a nicotina e o alcatrão são diluídos na água. Só por isso, já dá pra saber que não faz mais mal do que o cigarro normal", afirma. Caio não caracteriza o uso do narguilê como vício, pois as pessoas viciadas em tabaco fumam mais e diariamente. "O volume de toxinas é maior, a lógica é de que o cigarro faz mal, e não o narguilê" comenta Caio.
Luísa Esteves, 18 anos, é filha de diplomatas e morou três anos na Malásia. Foi lá que se habituou a fumar narguilê. Para Luísa, que usou o cachimbo dágua pela primeira vez aos 15 anos, o hábito não faz mal. "Lá existe narguilê em quase todos os bares, as pessoas fumam em várias ocasiões. Eu saía com amigos e ia fumar nos bares da cidade", diz a estudante. Luísa ainda não comprou um aparelho de narguilê e fuma com amigos uma vez a cada dois ou três meses.
A estudante Gabriela Kolling, 18 anos, fuma narguilê sempre que pode, também com um grupo de amigos. Ela não tem um aparelho em casa e fuma cigarros comuns. "Não me importo muito. Dizem que vou morrer por fumar a toda hora, mas eu não ligo. Eu gosto."
Na Feira dos Importados, a loja Rei do Arguilê é especializada na venda do fumo e de peças para o narguilê. Um dos proprietários, Clemar Afonso da Silva, afirma que o cachimbo faz mal, mas não muito. "As taxas de monóxido de carbono e alcatrão são mínimas, e a nicotina ainda é filtrada na água." Clemar diz que as vendas vão bem. Todos os dias, ao menos um aparelho de narguilê é vendido na loja.
A publicitária Lia Artiaga, que comprou há dois anos um aparelho de narguilê com uns amigos, afirma desconhecer os males causados. "Tem tempo que não fumo, o que é bom, já que faz tanto mal. Normalmente fazemos festinhas em casa mesmo, e juntamos os amigos para fumar o narguilê".